quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Responsabilidade social e o enxofre

Responsabilidade social e o enxofre 
O Estado de S. Paulo
Josef Barat economista
20/12/2008 


Josef Barat 

Em setembro a Justiça Federal em São Paulo decidiu, por meio de liminar, que a Petrobrás seria obrigada a fornecer diesel menos poluente - com concentração de 50 partes por milhão (ppm) de enxofre - para abastecer, em pelo menos uma bomba por posto, os veículos novos que entrassem no mercado a partir de janeiro de 2009. 

O Ministério Público Federal (MPF) anunciou que iria recorrer da decisão, para que o fornecimento fosse obrigatório para toda a frota a diesel. Esse era o desdobramento da polêmica sobre a Resolução 315 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que determinava a redução da concentração de enxofre no diesel sem distinção entre veículos novos e antigos. Sabe-se que a concentração de enxofre no diesel brasileiro é de 500 ppm nas regiões metropolitanas e de 2 mil ppm nas áreas rurais. A Petrobrás, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e as montadoras sempre protelaram as providências para atender a uma resolução aprovada há mais de seis anos. 

A verdade é que nem a Petrobrás sinalizou para a produção do novo diesel em larga escala nem as montadoras se programaram para cumprir o prazo estipulado. No entanto, embora os veículos movidos a diesel representem apenas 10% da frota nacional, respondem por mais da metade dos poluentes liberados no trânsito das grandes metrópoles. Segundo pesquisa da Universidade de São Paulo, a alta concentração de enxofre faz com que a fumaça do diesel consumido por ônibus, caminhões e utilitários seja responsável pela morte de mais de 3 mil pessoas por ano no País. 

Em fim de outubro foi celebrado o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre a Petrobrás, a ANP e as montadoras. Foi a forma encontrada pelo MPF para exigir, afinal, o cumprimento da resolução. A ANP terá de apresentar um plano de abastecimento de diesel com baixo teor de enxofre, a ser cumprido pelas distribuidoras, para abastecer veículos em todo o País. As montadoras se comprometem a fabricar veículos a diesel com tecnologia mais moderna do que a prevista para 2009, que, em contrapartida, serão oferecidos ao mercado em 2012, e não mais em 2016. A Petrobrás terá de gastar mais US$ 2 bilhões para produzir o diesel menos poluente (50 ppm de enxofre) a partir de 2010. Até lá, promete importar o que for necessário. Em 2013, quando entra em vigor a nova regulamentação, veículos novos vão usar um diesel ainda menos poluente (10 ppm de enxofre), já produzido nas refinarias que a estatal planeja construir. Para o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, negociou-se o possível, argumentando que, do contrário, seriam fechadas fábricas e refinarias, com a perda de 10 mil empregos. A Petrobrás, por sua vez, alega gargalos técnicos e necessidade de investimentos vultosos para o cumprimento da resolução. 

O “possível”, muitas vezes, escamoteia falta de firmeza. Objetivamente, protelou-se a solução e não se deu a devida urgência para as regiões metropolitanas. Durante seis anos, nenhuma das partes teve o menor respeito ao drama da sociedade. Em termos de responsabilidade social - nos seus aspectos éticos e humanos -, embora as empresas envolvidas se proclamem ética e socialmente responsáveis, na verdade não se mostraram desta forma com relação à questão do diesel. O debate nos remete, assim, à reflexão sobre a chamada responsabilidade social. Muitas empresas fazem de seus projetos e ações “vitrines” promocionais, sem lhes dar maior consistência, conteúdo e alcance. Muitas ações promovem a imagem da empresa, mas podem esconder o não comprometimento com demandas sociais mais abrangentes. 

Seguimos a tendência dos países desenvolvidos de maior responsabilidade social das empresas, mas vivemos realidades institucional, política e social muito mais complexas. Nesse ambiente, projetos e ações sociais não podem ser meras iniciativas promocionais, mas contribuir para que o conceito de cidadania seja ampliado para incorporar aspirações que resultam da luta crescente por igualdade, participação e representação. Se os projetos sociais das empresas não se articulam consistentemente com demandas da sociedade e políticas públicas, não se chega a lugar nenhum. Urge superar a idéia de que participação responsável consiste na prática de atos altruístas pontuais. Isso vale tanto para empresas quanto para o governo. É necessário algo mais: ações público-privadas coordenadas e maior consciência social, visando a compromissos duradouros. 


Postado por Eliseu Raphael Venturi.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

'Favorecer só um direito pode piorar outro'




São Paulo, 12/12/2008
'Favorecer só um direito pode piorar outro'

Membros de grupo que monitora direitos humanos no país criticam falta de política de desenvolvimento integrada com o meio ambiente


DAYANNE SOUSA
da PrimaPagina


Políticas de desenvolvimento devem ser pensadas em conjunto com os direitos humanos pois, caso contrário, o próprio Estado pode acentuar uma violação, afirmam a socióloga Lígia Cardieri e o especialista em direito, Gabriel Jamour Gomes. Os dois são integrantes da Secretaria Executiva da Plataforma DhESCA Brasil (Plataforma Brasileira de Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais), uma rede de organizações da sociedade civil que desenvolve relatórios de monitoramento dos direitos humanos no Brasil em projeto apoiado pelo PNUD.


“Vejo a complexidade do mundo atual, os direitos atuais. Se você cumpre alguns, acentua outros”, defende Lígia. Gabriel argumenta que políticas de desenvolvimento que visem apenas a criação de empregos podem, num primeiro momento, privilegiar o direito ao trabalho, mas acabar criando trabalho precário e prejudicar o meio ambiente. “Não se pode construir uma hidrelétrica na Amazônia e resolver o problema atual energético em prejuízo das comunidades ribeirinhas e indígenas”, diz.


Em entrevista à por telefone à PrimaPagina sobre os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, comemorados em 10 de dezembro, os dois creditam a medidas estatais responsabilidade quase integral pelo avanço do cumprimento dos direitos no Brasil e no mundo. No caso brasileiro, vêem uma evolução a partir da Constituição de 1988, mas criticam a alta desigualdade socioeconômica. Para Lígia, combater a essa desigualdade é uma ação em prol dos direitos humanos.


Num de seus últimos documentos, a Plataforma DhESCA aponta leis e medidas brasileiras que consideram os ideais da Declaração: em 2002, a criação do Programa Nacional de Direitos Humanos e, no ano seguinte, do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. Apesar disso, o documento identifica a falta de conhecimento de matérias de direitos humanos no Judiciário brasileiro como uma dificuldade de fazer valer alguns valores expressos em lei.


Confira a abaixo a íntegra da entrevista, na qual Lígia e Gabriel fazem um balanço da importância do documento nas políticas públicas e no direito e apontam a necessidade de fazer a Declaração ser mais difundida no país.


Como vocês vêem o papel da Declaração Universal dos Direitos Humanos hoje?
Lígia Cardieri –
Ela funciona como um farol. É superimportante, mas está longe ainda de estar realizada, e é por isso que tem extrema importância. Eu acho que muitos países, o Brasil é um exemplo, se inspiraram nela e até hoje a Declaração é invocada quando há, muitas vezes, a ausência de legislação local ou nacional. Mas a gente percebe que ela é um instrumento pouco conhecido do grosso da população. Então, acho que ela fica como um patamar de inspiração para uma humanidade melhor, mas o que predominou nesses dias de comemoração e que eu senti, vi e também concordo é: “bom, e a distância entre o real e o que está no papel? O que fazer para chegar lá? De quem são as responsabilidades?”


Gabriel Jamur – O que a Lígia falou é verdade, a função da Declaração é ser esse farol numa escuridão onde não existam direitos. Ela foi criada no período pós-guerra justamente por causa disso, para não deixar ocorrer um black-out como ocorreu durante o regime nazista ou o regime fascista na Itália.


É difícil transformar esse direcionamento em atuações práticas?
Lígia –
Uma coisa que vejo é a complexidade do mundo atual. Os direitos atuais. Se você cumpre alguns, acentua outros. Aumentar emprego pode ter custos ambientais, por exemplo. Então, tem que haver um pensamento mais complexo, precisamos juntar os saberes. O grande desafio é a integralidade dos direitos. Isto vai além da universalidade. Como eu posso cumprir um direito ambiental e ao mesmo tempo o país melhorar, distribuir a renda, garantir mais emprego?


Como resolver isso?
Lígia –
Os governos, o aparelho de Estado ainda funcionam muito setorizados. Cada um, cada setor, pensa nos direitos pelo qual é responsável. É preciso ter as coisas mais integradas.


Gabriel – O Estado tem, por exemplo, que criar um ambiente no qual a preservação seja um dos pontos centrais. Isso aliado a projetos de desenvolvimento. A gente não é contra que o país se desenvolva, mas ele tem que se desenvolver atendendo a critérios ambientais e questões sociais. Não se pode construir uma hidrelétrica na Amazônia e resolver o problema atual energético em prejuízo das comunidades ribeirinhas e indígenas que vão ter impedido o acesso a seus meios de vida, por exemplo.


Mas existem direitos que não se constituem expressamente como deveres do Estado? O Estado tem, por lei, que fornecer educação a todos, mas está expressa uma obrigação, da mesma forma, de fornecer emprego a todos, ou de preservar o meio ambiente?


Gabriel –
A gente entende que existe o dever, o Estado tem que garantir.


Lígia – Não, o que eu acho que está em discussão é que existem direitos que precisariam ser colocados em legislação. Ser mais firme contra a questão do trabalho escravo, por exemplo. Mas, em outras questões, o Gabriel tem razão. A maior responsabilidade ainda é a do Estado. É claro que a população precisa participar, mas dependendo do modelo de desenvolvimento, da política ambiental que o Estado adota, vai se causar danos ambientais ou estressar ainda mais um trabalho que já é mal remunerado.


Gabriel – O Estado é obrigado a criar um ambiente propício para que o emprego seja criado, e emprego de qualidade. É dever do Estado não deixar, por exemplo, a indústria canavieira criar um emprego em que o trabalhador morra. Quanto ao meio ambiente, o Estado não tem que plantar árvores, mas tem que impedir o desmatamento.

Existe uma dificuldade em tomar o direcionamento da Declaração e expressá-lo em leis nacionais?
Gabriel –
Na questão de legislação, no Brasil, a Declaração já teve um impacto muito forte, especialmente no processo constitucional. No regime de 64, foram excluídas todas as garantias mínimas da população. A Constituição de 88 foi muito consubstanciada, principalmente no artigo 5º, que fala das garantias fundamentais. O nosso problema, em termos de legislação interna, não é a falta da implementação dos princípios da Declaração. Isso tem sido agregado, cada vez mais. O problema é o discurso entre o mundo jurídico e o mundo da prática. É também uma questão de políticas públicas. Não adianta a gente ter uma constituição que fale que tem que ter educação para todos, quando o Estado dá pouca educação ou dá educação de baixa qualidade.

Quais seriam os desafios brasileiros pelos direitos humanos? Quais as maiores violações que nós temos atualmente?

Lígia –
Eu diria que a desigualdade socioeconômica no Brasil é tão brutal que a gente ainda tem que ter vergonha do que está acontecendo. E a diminuição da desigualdade tem que ser muito mais rápida senão vai demorar um século. Essa desigualdade é, para mim, o grande peso, a questão de fundo. Nós temos grande parte da população que não tem o que comer, que não tem moradia decente, que não conhece o mínimo da lei trabalhista, mas eu não faria uma hierarquia. Não é possível dizer que tem um problema que seja mais importante que outro. Temos que olhar para todos.


Gabriel – O problema no Brasil não é que a população não tem acesso aos direitos humanos. Tem gente que tem acesso a todos ou quase todos, mas o problema é que o mendigo aqui do outro lado da rua não tem acesso a nenhum.


Desigualdade é um tema mais caro aos países subdesenvolvidos ou é parte dos desafios que os direitos humanos têm em todo o mundo?
Lígia –
Com certeza, onde a desigualdade for parecida com a do Brasil, isso será um problema grave, mas existem outras desigualdades que não são socioeconômicas. Elas são de negar ao outro o direito de opção religiosa, o direito de ser diferente, ou de ser mulher, ou de ser homossexual. O conjunto dessas muitas desigualdades tem que ser levado em conta em cada situação. O multiculturalismo existe e, em cada país, ele vai ter pesos diferenciados.


Considerar a particularidade de cada país não vai contra a idéia de universalidade, que é o essencial da Declaração? O respeito às diferenças culturais não se choca com a propagação dos direitos humanos como universais?


Lígia –
Esse é o desafio da complexidade de que eu falava, de que o [sociólogo e filósofo francês] Edgar Morin fala. Certas coisas são essenciais. Ninguém diria que, por exemplo, não pode haver direito à comida. Todo mundo diz que sim. Mas tem questões como a das mulheres que sofrem mutilação do clitóris, o que alguns povos justificam em termos religiosos. A gente tem que trabalhar com muita informação. Com muitas alternativas explicitadas antes de invadir qualquer país, antes de dizer “vocês tem que parar com isso”. As próprias mulheres que saíram desses países, que tiveram a oportunidade de estudar, elas mesmas vão falar para suas companheiras. Tem que pressionar. Não se pode respeitar aquilo que mutila, por exemplo. Não se pode aceitar tortura, não se pode aceitar uma religião que as pessoas se matem, por exemplo. Eu acho que isso é um desrespeito porque aí nega a própria essência do ser humano.


Então, como impedir isso?
Lígia –
Vale a pena continuar pregando como universal sem achar que o outro é um bárbaro por estar fazendo diferente. Certas coisas não podem ser obrigatórias, compulsivas. A solução não é nem um país invadir o outro para enfrentar e nem deixar um país agir como quiser, fazermos de conta que não estamos vendo. Tem que pressionar, tem que discutir. Veja o direito ao aborto, por exemplo, ao qual eu sou favorável. Eu sei que não adianta passar uma lei. Assim como eu não admito que uma lei criminalize, ninguém tem que ser obrigado. Tem que se discutir isso. Eu acho que é possível a gente caminhar em direção a uma maior dignidade. Ainda estamos longe, mas é possível.


Em termos gerais, estamos nos aproximando mais do cumprimento dos direitos humanos?
Lígia –
Eu acho que hoje se fala mais neles. Há vinte anos, não se dava importância para as desigualdades. Mas, hoje, ainda está muito pouco aprofundada essa discussão. É fácil? É simples? Não é. Mas não se pode esperar 2 mil anos, de jeito nenhum.

Conheça o projeto
Saiba mais sobre o projeto
Relatores Nacionais de Direitos Humanos, apoiado pelo PNUD.

Disponível em: <http://www.pnud.org.br/cidadania/entrevistas/index.php?id01=3114&lay=cid>.

Acesso em: 16 dez. 2008.

Postado por Eliseu Raphael Venturi.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Minc anuncia ação para fomentar tecnologia verde

11/12/2008 - 11h59
Minc anuncia ação para fomentar tecnologia verde
Eric Brücher CamaraEnviado especial da BBC Brasil a Poznan (Polônia)


Na Polônia para a rodada final das negociações das Nações Unidas sobre o clima, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, lançou nesta quinta-feira a criação de uma aliança para fomentar o desenvolvimento de tecnologias não-poluentes em países em desenvolvimento.
Batizada de Atia (Aliança Tecnológica para Inovações Antiaquecimento), a iniciativa brasileira - que ainda está em fase inicial - pretende criar parcerias para possibilitar a transferência de "tecnologias adaptadas à realidade de cada país", em parte com recursos provenientes do mercado de carbono nos países ricos. "Isso talvez dê corpo a essa idéia geral da transferência de tecnologia que não colou", afirmou Minc, na cidade polonesa de Poznan, dizendo já contar com o apoio dos governos da Alemanha e da Noruega.
O ministro se referia a um dos impasses, após dez dias de negociações entre representantes de quase 190 países, sobre mecanismos que possibilitem a transferência de tecnologias não-poluentes sem custo para países em desenvolvimento.
Impasse
Integrantes da delegação brasileira consultados pela BBC Brasil afirmaram que a Atia seria uma forma de usar o mercado de carbono para facilitar transferências tecnológicas sem aumentar os direitos de emissões dos países ricos.
O funcionamento do sistema seria semelhante ao já proposto para o fundo da Floresta Amazônica: países que emitem créditos de carbono para empresas poluentes (a exemplo do que já acontece na Europa) destinam uma parcela desses créditos a um leilão.
Uma pequena porcentagem dos recursos levantados no leilão seria utilizada para pagar os donos das patentes de tecnologias limpas ou incentivar novas invenções.
Para que a iniciativa entre em funcionamento rapidamente, o ministro Minc fala também sobre o adiamento do pagamento de royalties aos detentores de patentes.
Dessa forma, à medida que recursos forem arrecadados, poderiam ser aplicados no pagamento destas dívidas.
Acesso em: 11 dez. 2008.
Postado por Eliseu Raphael Venturi.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Petrobras pede seu desligamento do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Companhia é alvo de campanha articulada contra sua imagem

Esclarecimentos sobre teor de enxofre e óleo diesel S-50
Petrobras pede seu desligamento do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Companhia é alvo de campanha articulada contra sua imagem
Para restabelecer a verdade dos fatos quanto a notícias divulgadas na imprensa sobre o teor de enxofre no óleo diesel, a Petrobras afirma que vem sendo alvo de uma campanha articulada com o objetivo de atingir a imagem da Companhia e questionar a seriedade e eficiência de sua administração.
Por entender que o grupo de pessoas e entidades responsável por essa campanha contra a Companhia encontra respaldo no Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, cujo conselho deliberativo é presidido por um de seus integrantes, a Petrobras, em respeito a todos os seus públicos de interesse e em conformidade com sua postura de responsabilidade social, decidiu hoje pelo seu desligamento da entidade.
O grupo de pessoas que atua de forma deliberada e difamatória contra a Petrobras é composto por integrantes das Secretarias de Meio Ambiente dos Estados de São Paulo e Minas Gerais, Secretaria do Verde e Meio Ambiente da Cidade de São Paulo, e de algumas organizações não-governamentais que se intitulam representantes da sociedade civil de São Paulo.
Entre outras afirmações mentirosas, o grupo diz que a Petrobras descumpre uma resolução Conama que não existe. O grupo mente ainda ao dizer que a Petrobras descumpre um Termo de Ajuste de Conduta - TAC igualmente inexistente que obrigaria a Companhia a ajustes na sua conduta supostamente indevida.
Resolução Conama
Ao contrário do que esse grupo tem afirmado, a Resolução Conama 315/2002 não trata sobre composição de combustíveis, muito menos sobre teores de enxofre no diesel, e sim sobre nível de emissões que os veículos, produzidos no Brasil ou importados, deverão apresentar a partir de janeiro de 2009. É portanto insustentável a afirmação de que a Petrobras estaria desrespeitando essa resolução.
A regulamentação sobre composição de combustíveis é competência da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis - ANP, que a fez na Resolução ANP nº 32 de 16 de outubro de 2007. Logo após, a Petrobras anunciou que fornecerá diesel com 50 ppm (partículas por milhão) de enxofre, a partir de janeiro de 2009, para os veículos que adotarem a tecnologia adequada às exigências da fase P-6 do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores - Proconve.
O Juiz José Carlos Motta, da 19ª Vara Cível da Justiça Federal de São Paulo, em decisão liminar proferida em 15 de setembro de 2008 determinou "...à Petrobras, que forneça o diesel S-50 em quantidade suficiente ao abastecimento dos veículos novos a serem introduzidos no mercado consumidor a partir de 1 de janeiro de 2009, em pelo menos uma bomba em cada ponto de comercialização de combustível; ...". E acrescentou em 2 de outubro deste mesmo ano "...Nesta linha de raciocínio e para completar a decisão embargada esclareço que a embargante, neste feito, afirmou e reafirma agora o compromisso público de disponibilizar às distribuidoras o volume necessário de Diesel S-50 comercial para atender a frota de veículos da fase P6 do Proconve - novos - e dotados de tecnologias restritas à utilização de tal espécie de combustível." Essa decisão referendou posições e práticas que a Petrobras vem adotando.
Cabe ressaltar que a Procuradora da República, Ana Cristina Bandeira Lins, em carta ao jornal Gazeta Mercantil em 12 de novembro de 2008 afirma textualmente "Um engano muito grande é dizer que há uma norma exigindo a distribuição exclusiva de óleo Diesel S-50 em todo o País." Em outra carta, publicada pela Folha de S. Paulo em 29 de novembro de 2008, diz que "a cada dia convenço-me mais que essa briga não tem nenhum cunho ambiental; é apenas uma guerra partidária."
Qualidade do ar de São Paulo
A afirmação de que a atual quantidade de enxofre no diesel é a única responsável pela qualidade do ar e a conseqüente ocorrência de graves doenças respiratórias da população brasileira é questionável, mesmo no âmbito metropolitano. Além disso, segundo relatório da Cetesb de 2007, o principal problema para a qualidade do ar de São Paulo é o ozônio, que não está diretamente relacionado com o teor de enxofre do óleo diesel. Quanto ao material particulado, que tem relação com o teor de enxofre do diesel, os índices de São Paulo estão aceitáveis, abaixo dos limites do Conama.
Assim, é enganoso afirmar-se que apenas reduzindo o teor de enxofre do diesel resolveremos o problema da qualidade do ar. Primeiro porque o enxofre influencia somente o material particulado. Segundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde - OMS, a queima de matéria orgânica gera também material particulado e não é possível diferenciar a toxidade dessas duas origens. Terceiro, o diesel com 50 ppm de enxofre só é efetivo quando utilizado em motores com tecnologia avançada P-6, como os que seriam produzidos para atender a Resolução 315. Quarto e último, a qualidade do ar é influenciada por diversos fatores tais como: idade e tamanho da frota automotora, tecnologia dos motores, sistema viário, condição de manutenção da frota, programas de inspeção e renovação da frota, entre outros.
Diálogo e acordo
O grupo de pessoas e entidades sustenta outra inverdade, a de que a Petrobras tenha se furtado a dialogar com a sociedade sobre emissões veiculares. Esse diálogo ocorreu em vários fóruns e oportunidades, entre eles a Conferência Internacional do Instituto Ethos 2008, da qual a Petrobras foi patrocinadora e que contou com a presença de vários integrantes desse grupo.
No Judiciário e no Conama a Petrobras dialogou com a sociedade civil, empresas e governos. Lamentamos que parte do grupo contestador, convidado, recusou o diálogo. O Governo do Estado de São Paulo e a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) participaram das negociações coordenadas pela Procuradora da República Ana Cristina Bandeira Lins, que resultaram no acordo judicial firmado em 29 de outubro de 2008. Participaram também o Ministério Público Federal, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama), Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Fabricantes de Veículos, Fabricantes de Motores, Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e a Petrobras. O diálogo se ateve à verdadeira Resolução Conama 315 e pôs fim a duas ações civis públicas propostas pelo Ministério Público Federal (MPF) e pelo Estado de São Paulo.
Por este acordo, o fornecimento de óleo diesel com menor teor de enxofre para as frotas cativas de ônibus urbanos das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, será iniciado a partir de janeiro de 2009. Nas demais regiões do país, o fornecimento de diesel S-50 se dará conforme cronograma divulgado pela imprensa.
Desinformação
A ação politizada desse grupo promove a desinformação do público em geral e induz entidades sérias a cometerem erros de avaliação e decisão, prejudicando a Petrobras, seus acionistas e demais partes interessadas. A Petrobras acredita que as melhores soluções para problemas complexos, com múltiplas causas e diversos interesses se dão através da busca do consenso possível, em respeito a todas as partes envolvidas e a partir de compromissos mútuos e visíveis.
Disponível em: <http://www.ambienteemfoco.com.br/?p=9096>. Acesso em: 10 dez. 2008.
Postado por Eliseu Raphael Venturi.