sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Com a palavra, Betinho

Com a palavra, Betinho
Empresa pública e cidadã
Herbet de Souza
Texto publicado em 1997
Está cada vez mais difundida, nos vários setores da sociedade, a idéia de que a atual situação do mundo requer atenção especial das empresas para a dimensão social. Mesmo de modo ainda disperso, a questão voltou com força total nas relações entre Estado, mercado e sociedade. Várias empresas no Brasil desenvolvem, há anos, nos mais diferentes campos, projetos socioculturais: educação, meio ambiente, crianças de rua, geração de renda, cinema, teatro, música, literatura, patrimônio, artes plásticas, entre outros.As empresas, públicas ou privadas, queiram ou não, são agentes sociais no processo de desenvolvimento. A dimensão delas não se restringe apenas a uma determinada sociedade, cidade, país, mas também diz respeito ao modo como se organizam e, principalmente, atuam. Nos países desenvolvidos, de economia de mercado, as empresas introduzem variáveis sociais nos critérios de gestão e desenvolvimento. Há cada vez mais a necessidade de demonstrar à sociedade que não se progride sem a pureza do ar, o desmatamento das florestas e a dignidade da população.
Na França, desde 1977, é legalmente obrigatória a publicação do balanço social das empresas com mais de 750 empregados, o que comprova a importância dada pelas sociedades desenvolvidas à gestão empresarial. Para a grande maioria dos empresários brasileiros, contudo, o conceito ainda é novo.
O que é, afinal, o balanço social? Segundo Nelson Gomes Teixeira, é “um instrumento colocado na mão de empresários para que possam refletir, medir e sentir como vai tal empresa, o seu empreendimento no campo social”. Trata-se de uma avaliação para medir e julgar os fatos sociais vinculados à empresa, tanto internamente (empresa/empregados) como externamente (empresa/comunidades).
Assim, o balanço social atende a todos. Para os dirigentes, oferece os elementos essenciais para as decisões sobre programas e responsabilidades sociais que a empresa venha a desenvolver. Os empregados têm a garantia de que as expectativas cheguem até os patrões de uma maneira sistematizada e quantificada. Os fornecedores e investidores passam a conhecer a maneira como a empresa encara responsabilidades em relação ao quadro humano o que representa um indicador de como a instituição é administrada. Todo esse processo chega até os consumidores, que verificam a qualidade dos produtos. Há uma aproximação entre a empresa e o mercado consumidor.
Quanto ao Estado, cabe a concessão de subsídios, importantes para elaboração de normas legais que regulamentem, da maneira mais adequada, a atividade das empresas para o bem-estar individual e da comunidade. Sem distinção, chegando ao lucro sem ultrapassar os limites sociais. Por conseqüência, mais lucro, maior satisfação dos funcionários e consumidores.
É possível pensar nesta realidade: ter não somente um balanço financeiro das empresas, mas um social, para que o conjunto da sociedade tome conhecimento do que já avançamos e do que teremos ainda a avançar nessa direção. Significa uma grande contribuição para a consolidação de um Estado verdadeiramente democrático, social e público. Um instrumento imprescindível à população, maior interessada no avanço de cidadania em nosso país. Afinal, é ela a destinatária dos serviços, públicos ou privados.
Os tempos e as consciências estão maduras maduros para que essa idéia caia em terreno fértil e se transforme em realidade. Que cada um tome a iniciativa e faça a sua parte, enquanto há tempo. O Brasil não pode esperar que o desenvolvimento passe por cima dos interesses e das cabeças de milhões de pessoas. Com isso, mostramos que não somos mais indiferentes à distância, cada vez maior, entre os que têm e os que não têm. E mais: trata-se de uma conquista duradoura, que se volta ao bem-estar social. Sem dúvida, a sociedade vai ser a maior beneficiada, com propostas concretas de melhores condições de vida. Um país mais transparente, cidadão.
Contexto
Pioneirismo social
Na década de 1960, nos Estados Unidos e na Europa, o repúdio da população à Guerra do Vietnã deu início a um movimento de boicote à aquisição de produtos e ações de empresas ligadas ao conflito. A sociedade exigia nova postura ética, e empresas passaram a prestar contas de suas ações e objetivos sociais. No Brasil, a idéia começou a ser discutida na década de 1970. Apenas na década seguinte surgiram os primeiros balanços sociais de empresas. A proposta, no entanto, só ganhou visibilidade nacional quando Betinho lançou, em junho de 1997, campanha pela divulgação voluntária do balanço social.

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